Título: O Retorno do Nativo
Autor: Thomas Hardy
Tradução: Jorge Henrique Bastos
Editora: Martin Claret
Páginas: 487
Ano: 2017
ISBN: 9788544001523
Sinopse: Em
meio ao território inóspito e infértil de Egdon Heath, o sexto
romance de Thomas Hardy revela a história de Clym Yeobright, que
retorna para casa após uma temporada em Paris. Ele, sua prima
Thomasin, seu noivo Damon Wildeve e a determinada Eustacia Vye são
os protagonistas de uma história repleta de amores trágicos,
paixão, alienação, melancolia e o papel do destino na vida do
homem.
Resenha:
Os moradores de Egdon Heath já estavam se preparando para as
congratulações do casamento de Thomasin Yeobright e Damon Wildeve
quando se reuniram naquela noite em volta da grande fogueira. Jogando
conversa fora, enquanto o fogo ardia em volta deles, foram
relembrando alguns fatos sobre o conturbado casamento de proclamas
daquele casal. Thomasin era sobrinha da Sra. Yeobright, que havia se
colocado contra aquela união, mas no final das contas a teimosia de
Thomasin foi vencedora e eles acabaram por se casar. Pelo menos era o
que pensavam todos naquela noite de novembro enquanto seguiam suas
tradições na várzea de Egdon Heath.
“Temos
de dançar no Natal, pois é a época certa do ano, e durante os
casamentos porque é um período único da vida; ou nos batizados,
quando se trata do primeiro ou segundo filho, é preciso participar
pelo menos em uma ou duas danças. Sem falar nas cantigas que é
necessário cantar.” p. 57.
Todos
ficaram um pouco perplexos quando um vendedor de almagre [um tipo de
argila avermelhada muito usada na época em muitas coisas como em
pinturas, em polimento de espelhos, para lustra prata e muitos outras
finalidades], parou diante deles com sua carroça de dois cavalos e
perguntou pela casa da Sra. Yeobright. Alguns até se assustaram,
pois o vendedor de almagre, por sua própria profissão, é uma
pessoa que frequentemente está coberta por uma coloração vermelha,
o que à noite e iluminada pelas labaredas de uma fogueira, pode lhe
dar um aspecto bastante assustador. Nenhum deles reconheceu de
imediato o vendedor de almagre que já havia muito tempo partido
daquela várzea com o coração partido e resoluto em fazer fortuna.
Diggory
Venn, não trazia boas notícias para a Sra. Yeobright, na verdade
ele estava ali para entregar a própria Thomasin Yeobright que já
deveria ter voltado, casada e com seu marido, para a estalagem do
casal que fica nos arredores da várzea. Porém, algo havia
acontecido e para desespero da Sra. Yeobright, Thomasin ainda não
havia se casado de fato. Aterrada com as notícias alarmantes e, até
certo ponto, humilhantes, as duas mulheres se encaminharam até a
estalagem para ver se Damon Wildeve já estava lá à espera de sua,
ainda, noiva.
“Pense
naquilo que passei para obter a permissão; o insulto que foi para
mim, como homem, a proibição da leitura dos impedimentos; injúria
dupla para um homem de sensibilidade, predisposto à depressão
moral, como só Deus sabe que sou. Nunca esquecerei disso.” p. 82.
Após
descobrir o que de fato havia acontecido, a Sra. Yeobright não havia
de forma alguma ficado feliz, porém as coisas estavam para piorar
quando ouviram uma cantoria que se aproximava deles e que logo bateu
à porta com um pedido de permissão para entrar e congratular o novo
casal. Wildeve não teve como negar a presença daquele grupo formado
por mais ou menos cinquenta pessoas, e deixando-os entrar, teve que à
contragosto mentir e aceitar todas as congratulações e festividades
de seus conterrâneos para que a humilhação não caísse de vez
sobre aquela família.
Quase
que ao mesmo tempo, em outro ponto da várzea, outra fogueira ardia
naquela noite de novembro. Porém, além da tradição, aquela ardia
como uma mensagem à ser entregue a uma pessoa em especial, Damon
Wildeve. Eustacia Vye era uma mulher muito bonita, personalidade
forte, solitária que vivia com seu seu avô em Egdon Heath em uma
casa afastada na várzea, mas que odiava aquele lugar. Eustacia tinha
em mente que iria sair daquele lugar depressivo e obscuro, pois não
tinha e nunca teria a visão romântica e acolhedora daqueles que
viviam naquele fim de mundo por toda a vida. Ela não sabia se
Wildeve viria de fato, pois naquela noite ele já deveria ser um
homem casado, o que por um acaso, não aconteceu e ela, já sabia
disso.
“Subitamente,
o vulto indistinto de um homem se configurou contra o céu que descia
até o vale, além da outra margem do charco. Ele deu meia volta e
subiu o barranco aproximando-se dela, que riu baixinho. Era a
terceira manifestação de seus sentimentos que a jovem expressara
naquela noite. A primeira, em Rainbarrow, exprimia ansiedade; a
segunda, na colina, impaciência, e a última, agora, era de uma
alegria exultante.” p .100.
Em
meio as turbulências dos sentimentos de Eustácia, Damon e Thomasin,
todos na várzea ficaram sabendo do retorno do filho da Sra.
Yeobright, Clym Yeobright, que anos atrás havia deixado a várzea e
se instalado em Paris, onde conseguiu um bom emprego que poderia lhe
render uma boa e confortável vida. Clym estava voltando ao seu local
de origem para passar o natal na casa da mãe, mas quis o destino que
um sucinto encontro numa estrada da várzea, lhe despertasse um
interesse que pensava estar adormecido: O Amor. Também não sabia das
consequências que esse mesmo destino estaria lhe reservando.
“Um
homem jovem e culto estava dirigindo-se para aquela solitária várzea
vindo de, entre todos os lugares que contrastavam com Egdon, nada
menos que Paris. Era como um homem enviado do céu. O mais singular
ainda era que os aldeões a tivessem unido, em seus pensamentos,
àquele homem, como se fossem nascidos um para o outro.” p. 154.
Opinião:
O Retorno do Nativo de Thomas Hardy, apesar de ser um famoso romance
clássico, foi a minha primeira leitura desse grande escritor, que,
diga-se de passagem, tem uma escrita muito “cheia” e
aconchegante, pois Hardy
nos apresenta uma gama de personagens coadjuvantes que, embora comuns, nos faz sentir quase como se fossemos da família, tamanha
destreza em contar a história de Thomasin, Wildeve, Eustacia e Clym.
Quando essa turma de aldeões e coadjuvantes, como disse, se encontra, nós leitores, nos
sentimos parte da roda de conversa e podemos até sentir o calor das
fogueiras, a melodia das cantorias e quase nos levamos à dançar
junto dessa turma animada.
O pessimismo do autor inglês pode ser encontrado em quase toda a
extensão de O Retorno do Nativo, porém e obviamente, que existem
personagens que dão o contrapeso da melancolia que a maioria deles
suportam na várzea de Egdon Heath. Thomas é categórico em
demonstrar que todos seus personagens carregam uma dose de
pessimismo, uns em baixo e médio grau e outros em graus elevados, o
que muitas vezes os fazem ter atitudes que lhe trazem, justamente, o
que semeiam: a tristeza.
Os
valores românticos daquela época são muito bem evidenciados em
toda a extensão da história, mas Hardy também expõe as limitações
determinadas pela sociedade ao papel da mulher, que mesmo sendo
forte, decidida e inteligente, sempre terá seu destino sob o julgo
masculino dessa mesma sociedade. Esses valores são realmente muito fortes em toda a trama, tanto que impede, inclusive, certos personagens agirem de forma insensata e, até certo ponto,
de forma perigosa pelas regras impostas naquele tempo. Mas um dos
maiores impulsionadores das ações dos personagens de Hardy no
decorrer da trama, é o orgulho; que de certa forma, é criticada
pelo autor impiedosamente àqueles que se utilizam dessa emoção
para reger suas ações e resoluções.
O
que os leitores irão notar, principalmente, é que Hardy constrói
uma excelente base antes de chegar na história principal dos quatro
personagens centrais. Thomas descreve o local, apresenta dados
históricos, define características de seus coadjuvantes, romanceia
seus sentimentos, crenças, objeções, medos e anseios, o que faz
com que seus leitores não possam mais largar as páginas desse
incrível romance. Posso dizer, claramente, que o autor nos coloca
numa armadilha literária em que só podemos nos livrar após sua
leitura completa, pois é extremamente difícil interromper a leitura
de O Retorno do Nativo.
As
especulações e o crescimento dos personagens principais são
deixadas um pouco de lado nessa trama, pois seus “atores”
principais já são apresentados de uma forma mais completa e estão
ali apenas para resolverem seus anseios e amores que são baseados,
principalmente como disse antes, no orgulho, paixão, amor,
ressentimentos e, mesmo que tardio, perdão.
Você,
leitor, acaba se apaixonando por toda Egdon Heath e sua várzea cinza
que é ora seca, ora lamacenta e que impõe uma carga
emocional fortíssima e esmagadora dentro de toda a história de seus
personagens, que não estão livres das felicidades que buscam e também das
tragédias que lhes atingem ao longo de suas vidas. Fico
muito contente de ter a grata oportunidade de mais
uma surpresa literária nesse ano de leituras espetaculares, que vem
me trazendo um enorme prazer que não tenho receios em desfrutar. É
por isso, meus caros leitores e caras leitoras que O Retorno do
Nativo de Thomas Hardy, publicado pela editora Martin Claret é mais
uma leitura IMPERDÍVEL.
Sobre
a edição: O
Retorno do Nativo vem em uma edição belíssima, no formato capa
dura e tamanho 16 X 23. A arte dessa edição é de uma qualidade
muito acima do normal em se tratando de edições em capa dura. A
editora Martin Claret teve o cuidado de apresentar um projeto gráfico
irretocável que envolveu, além da capa com toques envernizados, a
lombada toda rosada, que colore também as folhas superiores e
inferiores, e, além disso, as folhas da lombada lateral direita,
imitam respingos que criam um efeito espetacular.
Realmente,
a Martin Claret, em o Retorno do Nativo, criou uma edição de beleza
ímpar e arrasadora, o que agrada ainda mais a experiência literária dessa obra-prima do romantismo vitoriano; simplesmente, repito, espetacular. Mais uma vez a editora Martin Claret
demonstra todo o respeito e o carinho que tem por nós, seus leitores.
Sobre
o autor: Thomas
Hardy (Higher Bockhampton, Dorset, 2 de junho de 1840 - Max Gate,
Dorchester, 11 de janeiro de 1928) foi um novelista e poeta inglês.
Autor de obras de grande importância, conhecido pelo pessimismo
radical que caracteriza os seus romances.
De
uma família de classe média, filho de um próspero construtor
civil, passou sua infância no campo. Estudou arquitetura e trabalhou
na restauração de edifícios antigos, principalmente igrejas,
enquanto escrevia poemas que só publicaria no fim da vida, quando se
revelou um extraordinário poeta. No seu período de maturidade
(1878-1895), escreveu obras que se tornaram clássicos da literatura
inglesa. Também foi um brilhante contista, que traçou perfis
psicológicos antitéticos, portadores e conscientes de seus desejos
sexuais e de sua própria opressão pela sociedade. O estilo prosaico
e objetivo da sua linguagem, cuja temática voltava-se para a
velhice, o amor e a morte, influiu na reação anti-romântica. Por
tudo isso, foi considerado o "último dos grandes vitorianos".
Hardy
casou-se com Emma Lavinia Gifford em 1874. Após a morte da esposa,
em 1912, casou-se com Florence Emily Dugdale, autora de livros
infantis. Morreu de causas naturais aos 87 anos. Ele está enterrado
na Abadia de Westminster [fonte: Wikipédia].
27 Comentários
Olá! O Retorno do Nativo parece ser muito bom. Gostei bastante de suas impressões. Sua resenha também apresenta curiosidades que instigam ainda mais a leitura. Parece ter uma história com boas críticas, com aquilo de fazer o certo e as coisas dão certo, fazer o errado e como o destino te joga algo ruim e essas coisas. Ver a vida dessas 5 pessoas e tudo que queriam e como acabou sendo no fim das contas é interessante, como é o caráter de cada um e tudo mais. Obrigada pela dica!
ResponderExcluirBjoxx ~ www.stalker-literaria.com ♥
Aline, eu que agradeço pela visita e fico muito feliz que tenha gostado. Espero te ver mais vezes por aqui. Beijos e muito obrigado novamente.
ExcluirGostei bastante da sua resenha, o livro parece ter uma leitura que nos prende, além de eu gostar da ideia de ter personagens coadjuvantes que são importantes na história, e não só ficar naquela mesmice de um protagonista e um antagonista. Não conhecia esse autor, mas achei bem interessante.
ResponderExcluirMuito obrigado, Loki. Volte sempre e arrisque-se, pois o livro é muito bacana. Abraços.
ExcluirOi, tudo bem?
ResponderExcluirEstou encantada com essa edição, a Martin Claret arrasa muito! Essa capa é realmente muito linda, se não estivesse escrito quem é o autor diria que é um desses romances atuais.
Enfim, admiro muito os esscritores da literatura inglesa e esse livro do Thomas Hardy já está na minha lista há algum tempo, estou criando coragem para ler hahahaha
A sua resenha está impecável, obrigada pelo quotes, pois me deixou ainda mais curiosa!
beijos - Anne and cia
Gabriela, muito obrigado. Leia sim, pois sei que vai gostar. A edição é maravilhosa, não é?! Beijos e volte sempre, tá?!
ExcluirPrimeiramente que edição linda, esses tons de rosa mais escuro e o preto ficaram SHOW demais. É a primeira vez que leio sobre o autor, não sei se sou muito uma pessoa de ler os clássicos, entretanto, tua resenha tá tão bem colocada, tão cheia de detalhes que fica impossível não se interessar em se aprofundar mais na obra.
ResponderExcluirRaquel, fico contentíssimo de ter lhe despertado a vontade de ler esse clássico. Muito obrigado pelas palavras e espero que goste bastante. Mais uma vez, muito obrigado e volte sempre. Beijos.
ExcluirOlá, tudo bem?
ResponderExcluirAinda não conhecia a obra ou seu autor, mas fiquei extasiada em poder conhecê-la através de sua resenha. Enquanto ia lendo a sua opinião, fui entrando dentro da história e se isto aconteceu lendo a resenha, imagino que a imersão na obra em si seja fantástica. Gosto do fato dele trabalhar muito bem os personagens secundários e ir entrelaçando a história aos poucos. Esse toque de melancolia e tristeza também me deixa curiosa para ler. A edição é linda, um espetáculo a parte. Parabéns pela resenha!
beijos!
Alice, muitíssimo obrigado. Espero que Hardy te conquiste assim como me conquistou. Mais uma vez, muito obrigado e volte sempre que puder. Beijos.
ExcluirOlá
ResponderExcluirAdorei a resenha, você conseguiu me deixar bem curiosa com o enredo, com o local onde a trama se desenvolve e como esse pessoal interagem. O King também faz muito isso de criar todo um contexto para só aí começar realmente a história.
Daniele, muito obrigado e fico muito contente que tenha gostado. Beijos e volte sempre.
ExcluirAchei a edição belíssima, desde a capa até o interior, além disso sua resenha está muito bem feita e fiquei curiosa em relação a história.
ResponderExcluirAndy, muito obrigado, fico feliz que tenha gostado. Beijos e volte sempre.
ExcluirO livro já me conquistou pela arte da capa e das folhas de mudança de capítulos, que foi possível ver através das suas fotos, que inclusive deu mais beleza ainda à composição da arte do livro.
ResponderExcluirA resenha me prendeu! Adorei saber que se trata de um romance de época, com vários personagens necessários para a história ser ainda mais cativante... Quero um exemplar deste livro também! Adorei. <3
Isa, muito obrigado. Espero que aprecie bastante esse belo livro. Beijos e volte sempre tá?!
ExcluirOie!
ResponderExcluirQue livro bem interessante! Ainda não sabia dessa edição, e gostei muito do que apontou sobre a história. Sua resenha está perfeita, expôs cada detalhe da trama que fez com que me deixasse ansiosa para conferir a leitura.
Muito bom!
Bjks!
Histórias sem Fim
Carla, espero que goste bastante e muito obrigado pelas palavras. Beijos e volte mais vezes.
ExcluirApesar de ser considerado um classico, eu nao conhecia a obra, mas pela sua resenha, me parece ser incrível. Fiquei bastante curiosa para entender como é a escrita do autor em relação a sentimentos tão dificeis de serem exprimidos, como a melancolia. Achei a edição lindíssima e pretendo dar mais uma olhadinha!
ResponderExcluirDayhara, mate essa curiosidade logo...kkkkkk... muito obrigado pelas palavras e espero que goste de minha indicação. Beijos e espero você por aqui mais vezes.
ExcluirOlá!
ResponderExcluirQue edição maravilhosa hein, mas eu não conhecia esse clássico rs' parece ser uma história bem rica que prende logo nas primeiras páginas. Fiquei curiosa para conhecer melhor. Dica anotada!
beijos!
Tatah, muito obrigado. Leia sim, pois vale cada centavo, ainda mais por essa edição belíssima. Beijos.
ExcluirOlá!
ResponderExcluirAté eu que não sou de incluir esse estilo de leitura clássica em meu dia a dia, fiquei animada com essa resenha. A escrita do autor deve ser instigante e tocante. Acompanhar os personagens e conferir o rumo que o autor lhes destinou, além da edição ser um show a parte.
Certamente dará gosto de ter na estante.
Beijos!
Camila de Moraes
Camila, muito obrigado pela visita e pelas palavras. Leia sim, tenho certeza que vai gostar muito. Beijos e volta mais vezes.
ExcluirNunca li nada do autor, apesar dele ser referencia para muitos leitores. Achei o projeto gráfico do livor maravilhoso e fiquei curiosa em ver os valores românticos daquela época na narrativa.
ResponderExcluirbeijos
Olha, essa edição realmente me despertou o interesse e a forma como descreveu as histórias me deixou curiosa pra saber acerca do que realmente está acontecendo e o que irá acontecer! A princípio essa seria a típica obra que eu passaria direto e nem daria atenção, mas sua resenha me deixou bem tentada a conhecer! Espero gostar!!
ResponderExcluirUm beijo
Olá Jeffa!!!
ResponderExcluirEu já ouvi falar muito do autor, mas por conta de outra obra do mesmo que não me vêm a memória no momento.
A história me chamou atenção por essa enxurrada de sentimentos transpassadas e o fato do livro prender você de forma em não querer largá-lo.
Adorei a edição, realmente Martin Claret tem todo um cuidado do meu.
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